Lembro-me de 2006.
Na época trabalhava até
meia-noite no Centro de São Paulo e minha mãe ficava com o coração na mão até saber
que cheguei bem em casa. Não apenas pela insegurança cotidiana nas grandes
cidades, mas, principalmente, porque estava aberta a “temporada de caça aos
policiais”. Policiais, viaturas e bases sofrendo intensos ataques; ônibus
incendiados. O Estado parecia ter perdido totalmente a autoridade e o controle.
Foram dias e noites assustadores.
Agora, passados mais de 6 anos, São
Paulo vive um macabro déjà vu.
E o mais triste é saber que em
meio a isto, haverá aqueles dizendo “bem feito... policial é tudo bandido, tem
que se ferrar mesmo...”.
Sem hipocrisia, infelizmente há,
sim, bandidos dentro das corporações... corruptos, que cometem abuso de
autoridade, criminosos que não merecem o direito de ser chamados de policiais e
certamente deveriam ser extirpados desse meio.
Mas, será que num universo de
mais de 100.000 componentes (falando apenas da PM paulista, sem contar todo o
efetivo em todas as instituições policiais civis, militares e federais Brasil a
fora), o policial realmente merece ser nivelado por baixo?
Por que não tomar como base os
homens e mulheres vocacionados, heróis, que dia a dia honram a corporação à
qual pertencem, arriscando a própria vida (e morrendo) para proteger uma
sociedade que, no geral, lhe trata com desprezo e repúdio?
A mesma sociedade que faz questão
de esquecer que, antes de policiais eles são cidadãos como todas as outras pessoas.
Se esquece que HONESTOS e CORRUPTOS são frutos dessa mesma sociedade, tão
apegada ao “bom e velho jeitinho brasileiro”. Sociedade que esquece que
a corrupção não nasce com parlamentares que recebem milhões de contraventores. A
corrupção (e sei que muitos irão discordar e até se sentirem ofendidos) começa
com o pai de família que acha normal furar fila, passar no sinal vermelho e
usar o famoso Q.I. (Quem Indica) para conseguir empregar um filho ou se livrar
de uma multa.
A morte de um policial, tanto
quanto a de uma criança e de um pai de família, deveria representar uma
afronta, um tapa na cara da sociedade, e não como uma notícia banal apresentada
em 10 segundos antes de começar a próxima novela.
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